09 novembro, 2006

Penso

penso na ciranda do dia-a-dia penso na poesia calma das linhas retas do mar penso no terror e na dor penso na beleza de minh’alma penso nas bonitas palavras penso na corrente que prende penso na água que é fresca e corrente penso em correnteza penso em merthiolate penso no que há penso inutilmente penso na garrafa plástica penso em felicidade penso infelicidade penso em solavancos mórbidos e em sonhos doces penso em olhos grandes penso em cuecas samba-canção penso no futuro do rádio de válvulas penso na esquina do velho rádio velho de válvulas penso em caboclo penso em sujeito e predicado penso em texto justificado penso em justificativa penso entre fones de ouvido penso em risada de homem limpando a piscina penso em toda gente se favorecendo e em árvore florescendo penso em gosto de amido e em laboratório de química penso repetidamente penso em figurinhas amassadas penso no México penso que não estive lá penso que sem ter estado posso pensar penso em estado paralelo penso em redondeza penso em miolo e em sabiá-canção penso em canetas rabiscando a tela penso sutilmente em sutileza penso em gelatina pura penso em mandarim e penso em português pois em mandarim não penso em poesia concreta penso porque penso em abstrato denso penso
(Texto de Rafael Cajibrino Bacelar)