Ele não sabia, mas certa vez um amigo havia lhe dito que aquilo poderia ser perigoso. Ali havia desejos distintos que para entrar em conflito precisavam apenas de um primeiro encontro. Ao que parece, na ocasião, ele tinha até concordado com a opinião do amigo. Mas a verdade é que nada disso era de seu conhecimento.
A partir daqui dá-se o encontro e os fatos entram no tempo.
Era noite de sábado, e os dois foram assistir a apresentação de um cantor de ópera. A música era boa, mas o interesse mútuo do casal era voraz. Não conseguiam não se fazer perguntas, e acabaram por ter uma apreciação fragmentada tanto do espetáculo quanto um do outro. Então a apresentação terminou, e a curiosidade, por três atos paralisada, foi libertada e os consumou. Foram horas, madrugada adentro, de interessada conversa.
Amanhã será manhã de segunda-feira. Ele irá acordar em seu quarto. Nesse instante já saberá da opinião do amigo. Saberá, mas achará, por não empírica, infundada e até mesmo infantil. No quarto ele olhará ao redor de si, sairá em direção à sala, verificará a cozinha e por fim o banheiro: descobrirá que está sozinho.
Mais tarde será visitado por uma leve tristeza. Daí será obrigado a levar em conta a sentença de seu amigo. Vai argumentar contra e a favor e não ultrapassará a barreira da dúvida. Chegará à conclusão óbvia de que é impossível afirmar qualquer coisa, se se quer precisão, quando se lida com argumentos vulneráveis e fantasiosos.
Mas por enquanto ele não sabe de nada disso. Já é quase manhã de domingo. Ele acaba de retornar a sua casa. Ele deita em sua cama e é feliz, numa felicidade vulnerável e fantasiosa.