10 dezembro, 2007

Não-poema todo pra Lia

1.
Nem todo mundo
dá num poema
meu
ou de qualquer outra pessoa.

2.
Ele - o poema -
salta, corre, dança
tentando te ser,
mas não alcança:
me foge.

Ele - não este -
pensa, fabula, conspira
e, tentando te ser,
irrompe em fala.
Mas fala pouco,
fala sem ênfase:
e não te serve.

3.
Aqui, a busca pára
e o poema não aparece.
Entrego: não tenho a técnica para fazê-lo.
Mas sei bem
que ele existe, mesmo
sem ser encontrado,
ante-estético, em mim.

4.
Então, este - o não-poema - se faz
no inconcluso.
Se faz pouco,
e tampouco te diz ou te digniza,
mas, teu,
é o que pude
com tempo estreito
e largo carinho,
Lia.

4 comentários:

Anônimo disse...

Poxa, o poema que ainda não saiu eu não sei... hahahahah, mas este está muito bom :p

Anônimo disse...

de novo, arrepio-me e meus olhos enchem-se d'agua. admiro demais teu raro talento. muito obrigada, rodolfo.

Unknown disse...

A madrugada de braços escancarados pra mim. Eu procurando algo pra insônia. Resolvo te visitar (uma breve visita, reconheço). Vasculho. Te leio. Uma. Cinco vezes. Ainda mais insone tenho vontade de ter um abraço.

Milena Vargas disse...

Falta pouco para virares de fato um parnasiano, amigo!

A UM POETA
Olavo Bilac
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarça o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade