12 janeiro, 2007

Bangu, futebol e metafísicas de autor

Tinha 14 anos e estava caído no asfalto. Sim, ele tinha o hábito de jogar bola no asfalto. E mais, as partidas aconteciam todo fim de tarde numa esquina torta, cruzamento de quatro ruas pouco atravessadas por automóveis. Ainda assim, eram eles, os automóveis, o principal motivo de interrupções nas partidas. Se quisermos eleger um motivo secundário, este seria a passagem, às vezes pelos rapazes apreciada, de moças, sem distinção de idade, pelo campo improvisado. Mas dessa vez o jogo havia sido interrompido por uma razão pouco comum. Um dos meninos estava no chão.

Não foi por maldade. Na ânsia do gol o atacante, se é que nisso que se chama de pelada há posições definidas, salvo o goleiro, chutou a bola com toda força em direção ao gol. O menino estava no caminho. Involuntário, ele interceptou o tiro, caiu no chão e gritou, Meu pau! Todas essas ações simultâneas.

No primeiro momento doeu pouco. Mas daí vieram os pensamentos, e a dor elevou-se a um patamar absurdo. O menino não levantava. E não levanta porque pensava. Uma bolada daquela poderia comprometer toda sua, não iniciada, mas iminente, cria ele, vida sexual. Que seria dele? Que seria do futuro macho por ele idealizado e por tanta gente mais moldado, desde os mais tenros anos de sua infância?

Nesse momento está formado em volta do menino um círculo de outros rapazes que para tentar reanimá-lo faz uso de técnicas um tanto quanto estranhas. A convicção, porém, com que passam, após cada falha, de um procedimento a outro demonstra que, mesmo estranhas, não são elas tão improvisadas. Mas de nada adianta. O menino continua no chão a gemer.

Deitado, junto da dor, o menino pensa. Sabe-se que aos 14 anos se está no auge da curiosidade, só saciada com a boca, pelo corpo seu e do outro. Sabe-se que nessa idade os hormônios trabalham com tanta intensidade que são responsáveis pela edificação das mais concretas verdades e também das mais fabulosas. Portanto o que deveras dói é o golpe, não tanto da bola quanto do destino, que provavelmente o atingiu para o resto de seus dias.

É preciso adimitir que talvez nada disso esteja se passando, afinal hoje não sou um narrador com tanto poder como já o fui. Da mente do rapaz nada sei. Apenas observo fatos numa tarde típica de Bangu há 10 anos atras.

O círculo se desfaz e, ainda com certa dificuldade, mas pronto pra voltar à partida, o menino se levanta.

(Para Pedrinho. Para Guilherme.)

5 comentários:

Anônimo disse...

achei que vc ia lá ajudar o menino cara.. hahaahahhhaa.. fazer uma massagem! ia ser delirante o conto!
estas escrevendo bem hein caboclo! hahahaha
meus parabéns!

Anônimo disse...

foda foda foda

muito perspicaz toda essa fantasia da neura de um maluco que está prestes a emergir na superfície da vida de esbórnia com uma simples (tá...nao é nada simples) bolada no saco.

parabéns é a palavra mesmo
=)

Anônimo disse...

bem bangu mesmo!
mas via isso mais no passado, nos meus tempos mais juvenis, hoje em dia acho que a molecada gosta mais de jogar nas lan houses do que ficar na rua jogando pelada!!
muito bem escrito! mesmo sem ter um ''pau'' senti a dor fisica e angustiante do menino""hahahha

Anônimo disse...

Ahaahahahhahahahahahahahahahhahahahahahahahaha, mt bom...

Anônimo disse...

sem comentários. Muito bom. Mas akele outro é infinitamente melhor. Vc é um artista, rapaz. Um beijo