15 novembro, 2009

Em resposta à vendo passar ela

Amor-morto.
Não foi o vermelho que expirou
A tragédia cedeu lugar à pressa
E o real contaminou a graça.
E o amor, este sim, mudou
A morte de amor, morreu
Os olhos dos amantes
Se encheram de preguiça
E a dor não mata mais.
Assim.


Os livros que tratam dos amores dilacerados
Que se dilacerem eles próprios
Ou que ardam – na brasa do sol!
Mudem de nome as criaturas
De um poeta inglês
E se criem novos heróis à maneira nova
Que secam lágrimas ao calor úmido.
Quando choram.


As amêndoas amargas de linhas colombianas
Não exalam seu perfume como dantes
Remetendo aos desejos sem ventura.
Tudo se arruma.
E a dor vem sim como um remédio
Que só no íntimo – e no gosto –
Remete às amêndoas.


Amor-novo.
De um novo entender o sol
E o frescor, o frescor raro.
À maneira nova, serão levados
Os amores – com e sem ventura!


Se a um tempo não se morre, se passa
Ao que se pode ver a extrema graça
De morrer
Um pouquinho de amor


Naquela manhã de fevereiro,
Restaram o sol e os confetes na sarjeta.
E a praça, a praça
continuava ali.


(Ao amigo Rodolfo, que me deu a forma desta poesia.
E a elas, elas que passam.)

Poema do amigo Rafael, em 22 de fevereiro de 2007

17 setembro, 2009

Sapato Florido

DA PAGINAÇÃO 

Os livros de poemas devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enchê-los de desenhos - gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores, luas, pontes, automóveis, cachorros, cavalos, bois, tranças, estrelas - que passarão também a fazer parte dos poemas…


TRISTE ÉPOCA

Em nossa triste época de igualitarismo e vulgaridade, as únicas criaturas que mereceriam entrar numa história de fadas são os mestre-cucas, com os seus invejáveis gorros brancos, e os porteiros dos grandes hotéis, com os seus alamares, os seus ademanes, a sua indiscutida majestade.


EXEGESE

- Mas que quer dizer esse poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
- E que quer dizer uma nuvem? - retruquei triunfante.
- Uma nuvem? - diz ela. - Uma nuvem umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...


QUE HAVERÁ NO CÉU?

Se não houver cadeiras de balanço no Céu... que será da tia Élida, que foi para o Céu?



(Todos poemas do livro Sapato Florido, de Mário Quintana)

03 setembro, 2009

Pro Bem da Cidade

Como é difícil você não se entrosar
e ainda ter uma certa tendência
a se espreguiçar em hora errada:
e São Paulo não pode parar pra te acompanhar.

Como é difícil!
E você acaba perdendo a calma
porque seu ônibus não espera.
Você vem devagarinho, meio com sono,
ele não espera.
Se você corre, gesticula,
grita desesperado, ele espera.
Mas se você vem devagarinho, meio com sono,
ele não espera.

Acho que vou ter quer dar um jeito nessa cidade.
É pro bem dela.
Já que não vou mudar mesmo,
eu vou dar um jeito nela.
É pro bem dela.

(Simples canção de Luiz Tatit - Rumo aos antigos)

30 julho, 2009

Modelo de cantada vulgar para uma mocinha sentada no banco da frente do ônibus

Os cabelos de - qual é o teu nome? -
são aquele cabelo-idéia de que falaria Platão.


(meio segundo depois - chato - me desperta que, sem lembrar, roubei os versos
já prontos num poema qualquer do Bandeira)


fevereiro de 2009

16 janeiro, 2009

Ausência número 2

nesse domingo
Passado
acordei com teu Cheiro

cheirando sobre os meus ombros