Um cicerone, um visitante e um conto
Por pouco não fora uma overdose. Não lembrava por quando tempo havia consumido avidamente toda aquela sorte de drogas. Uma semana? Um mês? Um ano? Mais! O tempo em questão lhe era vago. Podia ser maior. Podia ser menor. Ele preferia crer na primeira hipótese. E seu transe? Deste, a lembrança era mais certa. Acontecera há cerca de um ano. O transe o havia marcado: vira um anjo.
Havia algo que tirava aquele homem do conjunto dos meros homens. Sim, era anjo! E por ser anjo era interdito. Não podia ser tocado. Podia sim ser observado. Mas quem teria força para olhar naqueles olhos pelo tempo suficiente? Ele não tinha. E se tivesse, haveria o tempo suficiente? Apesar disso, por um esforço involuntário a mão do visitante foi tocada. O toque foi retribuído, até com certo gosto. Mas não passou disso. Era anjo e era interdito.
Aconteceu que o efeito passou.
Foram instantes de felicidade radiante, mas algo o atormenta. Não sabe se o visitante é o que foi, ou se é uma criatura de sua cabeça há tanto alucinada. Tem certeza de que houve visitante. Era todo material! Era físico demais! Mas não há como certificar sua procedência.
Agora, ele sozinho, jogado de volta ao real que é o mundo de chão, encontrou uma única saída. Usa toda a sorte de drogas, entre as velhas conhecidas e novidades tecnológicas, buscando reencontrar, alucinada ou não, aquela divina sensação. amor
(Para Marisa, a cantora. Toda essa trama só acontece porque ouço e distorço sua música)